Quando ouvi esta frase pela primeira vez, confesso, não a entendi. O contexto em que a ouvi pode ser familiar para alguns e para outros não. Foi um professor de teologia, pastor presbiteriano, que contou um experiência fantástica com seu pai, também pastor presbiteriano e professor de teologia. Ele saíram para conversar e dizem os dois, foi um conversa riquíssima, que, contudo, a memória dela não foi preservada.
Este dias para trás houve uma programação na igreja que deu muito trabalho para seus organizadores. O cenário montado, meses de ensaio, tudo muito bem feito, chegou o dia! Tudo ocorreu bem, foi realmente muito bonito. Mas quando acabou… acabou! Fica no ar aquela sensação de “tudo aquilo, pra isso…”. Não são raros os pedidos para “reapresentação”, uma vez que tanto trabalho árduo precedeu o evento. Ocasiões como esta são comuns, e este último acontecimento é apenas uma ilustração que lembra que Deus gosta do cheiro da carne queimada, e penso que Deus gostar disso consolará o nosso coração quando tais pensamentos nos acometerem.
O que é isso? O que se quer dizer com “Deus gosta de cheiro de carne queimada”? Esta é uma referência a um sacrifício muito comum no Antigo Testamento, chamado HOLOCAUSTO.
Prescrito na lei de Moisés, havia 5 tipos de sacrifícios distribuídos em 3 categorias. Na categoria de Expiação ficavam os sacrifícios pela culpa e pelo pecado (Lv5.14-6.7; 7.1-6; 8.14-17; 14.12,21; 16. 3-22). Na categoria de Comunhão o sacrifício pacífico (Lv 3; 7.11-34). Finalmente, na categoria dos sacrifícios de Consagração os sacrifícios das ofertas de manjares e o holocausto (Lv 2; 6.8-13, 14-23; 8.18-21; 16.24).
O que era o holocausto? Era um tipo de sacrifício em que a vítima era totalmente consumida pelo fogo. Este tipo de sacrifício era oferecido duas vezes ao dia. Nele, a “churrasqueira” deveria ser mantida acesa pelo levita diuturnamente ou seja, jamais as chamas que ardiam deveria apagar-se. Todo o animal era queimado e nada era aproveitado para outro fim, senão ser consumido pelo fogo! É bom lembrar que para o holocausto o animal deveria ser perfeito, sem deformidades ou imperfeições. O melhor do que havia no gado de Israel era para ser oferecido, quando um sacrifício deste tipo era ofertado. Uma oferta de santa consagração ao Senhor Deus.
Usei o termo “churrasqueira” para provocar. É porque quando pensamos em carne sendo queimada, pensamos em churrasco e no “aroma suave” que ele levanta. De fato, o bendito aroma suave era cheiro de carne queimando: “… queimará tudo isso sobre o altar; é holocausto, oferta queimada, de aroma agradável ao Senhor” (Lv 1.9). O delicioso cheiro, constante e presente, que aguçava o apetite do povo e dos sacerdotes, era para o Senhor. Toda aquela carne era queimada, nenhum grama era consumido, senão pelo fogo! E não era algo simples, dava muito trabalho! Não bastasse o fogo ter que ficar sempre aceso, o animal deveria ser corretamente cortado, algumas partes separadas, colocadas em ordem e por fim, algumas parte lavadas antes de serem queimadas! Tanto trabalho para… ninguém comer, e o fogo consumir…
Primeiro, temos que reconhecer que quando pensamos na carne e no aparente desperdício, estamos pensando em nós. Nossa glória, que podemos chamar de satisfação pessoal, prazer de comer ou coisa que o valha, vem em primeiro lugar do que a plena satisfação em Deus. Com humildade reconheço que este é, muitas vezes, o meu caso. Muitas vezes, todo aquele nosso esforço culmina em oferta de consagração a Deus, embora nosso desejo mais íntimo seja que aquele trabalhão lograsse algum benefício pessoal para nós, cujo suor foi duramente derramado!
Segundo, há coisas cujo usufruto não nos pertence! Deus as quer, e como Criador e Sustentador, detém o direito de as reservar para Si. O processo de rebeldia e idolatria começa no coração que deseja usufruir daquilo que pertence a Deus. Quando fazemos toda aquela preparação para a ocasião em que ofereceremos a Deus o louvor, fruto de meses de ensaio e muito preparação; desejamos rever, não para dar a Deus o que lhe é devido, mas para nosso deleite pessoal! Devemos travar a luta interna para entregar a Deus toda a carne e vê-la queimar… sem tirar nenhum “bifinho” para nós (nem para provar o tempero!)
Deus gostar de carne queimada tem sido fonte de refrigério e consolo para mim, e espero que para você também, caro leitor. Saber que Deus se agrada daqueles momentos de consagração que ninguém viu, e oferecer tudo aquilo que foi, carinhosa e antecipadamente preparado; e contudo, não repetir, é como oferecer a carne no altar do holocausto: não dá pra repetir, a carne tem que ser queimada toda, até o fim!